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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Esquizoanálise- arte, estética e política




A Esquizoanálize foi fundada pelo filósofo Gilles Deleuze e pelo psicanalista Félix Guattari, no contexto histórico, após os movimentos sociais de 1968 na França (Maio de 68). Segundo Hur (2013): é um campo de saberes que abrange relações desejantes e uma análise política dos microfacismos. Para Deleuze e Guatarri o facismo abrange diversas relações e instituições, conceito retirado da obra de Foucault, o poder não está apenas no estado, mas, na família, na escola, e em outras instituições.

Durante o curso de Psicologia houve dois campos teóricos que me encantaram a sistêmica para trabalhos com famílias e a esquizoanalise para trabalho na clinica e na área social. Neste artigo citarei alguns dos principais conceitos desta teoria.

Esta teoria/ prática se preocupou em aprofundar na relação entre Capitalismo e Esquizofrenia. Hur (2013) pontua que para concepção esquizoanalítica o inconsciente é compreendido como maquínico, e não como representativo. A concepção de subjetividade para a esquizoanálise, abrange elementos internos do sujeito e sociais. O desejo segundo esta perspectiva é visto como produção e não como falta.

Os principais conceitos aplicados nesta teoria são: linhas (duras, flexíveis e de fuga). Traçar a linha de fuga, é fugir de um sistema, ela é caracterizada como imprevisível, para assim ser possível haver novas formas de subjetividade.

Já as linhas duras são engessadas servem para classificar, nomear, e diz da identidade do indivíduo. As linhas flexíveis estão ligadas a produção da diferença e o caráter inventivo. Ela busca fugir de alguma coisa, a linha de fuga ou de desterritorialização.”[...] converte-se em linha de abolição, de destruição das outras e de si mesma.(DELEUZE, PARNET, 1998, p.165)

Deleuze e Parnet (1998) pontuam que devir é o contrário de se ajustar a modelos impostos socialmente. O devir para a filosofia significa o que você está se tornando, não é o caso para estes autores, visto que, quando estamos nos tornando modificamos tanto a ponto de não sermos mais nós mesmos, as linhas de fuga estão diretamente ligadas ao devir. “Os devires são atos que só podem estar contidos em uma vida e expressos em um estilo.”(DELEUZE, PARTNET, 1998, p.11)

 
Rizoma

O rizoma é um conceito trazido da Biologia, se define por:

[…] um sistema anti-sistema, uma espécie de rede móvel de canais, fluxos, remoinhos e turbulências, de limites internos e externos difusos, do qual se pode entrar e do qual se pode sair em qualquer ponto, que se pode percorrer em infinitas direções e que é reinventado a cada viagem e por cada um que o percorre.(BARBEMBLITT, 2003, p. 40)

 
O corpo sem órgãos, este conceito para Baremblitt se caracteriza por tratar do caos, e este é visto como algo positivo. Na obra o Anti-édipo, corpo sem órgãos está ligado a esquizofrenia e a antiprodução ao mesmo tempo que produz algo novo através do desejo de produção. (DELEUZE, GUATARRI, 2010)

Processos de subjetivação?

Os processos de subjetivação se caracterizam por pensarem a expressão da subjetividade enquanto produção e atravessamentos sociais, institucionais e políticos. Modos de viver diferentes dos modelos imposto pelo capitalismo, a subjetividade se modifica de acordo com os encontros.

 

 
Utiliza-se o paradigma ético-estético e político:

 O que estou definindo como ético é o rigor com que escutamos as diferenças que se fazem em nós e afirmamos o devir a partir dessas diferenças. [...]Estético porque este não é o rigor do domínio de um campo já dado (campo de saber), mas sim o da criação de um campo, criação que encarna as marcas no corpo do pensamento, como numa obra de arte. Político porque este rigor é o de uma luta contra as forças em nós que obstruem as nascentes do devir”.(Rolnik, 1993, p.07)
 
  Com a clinica esquizoanalitica é possível se trabalhar com oficinas na área de saúde mental, Segundo Romagnolli a partir da cartografia e de algumas referências da esquizoanálise e da análise
institucional, é possível discutir o movimento desse coletivo como espaço de pensamento e de produção de novas formas de vida das pessoas envolvidas e, com ela, novos protagonismos no campo social e político da saúde mental. Vale lembrar que a esquizoanálise e a análise institucional são correntes que fazem parte do movimento institucionalista em nosso país.
Segundo Barros (2007): A esquizoanálise apesar de ser utilizada nas práticas com grupos, já que trata das instituições, não há relação direta entre este campo de saber  com o dispositivo grupal. Pois, Delleuze e Guatarri não tiveram em suas obras teorizações aprofundadas sobre o tema.

Apesar desta teoria não se propor a estudar os processos grupais, tem muito o que contribuir nestas práticas, principalmente, no que diz respeito as instituições e indivíduos como devires, ou seja, uma subjetividade que não está pronta, que passa por mudanças e  assim produz novas formas subjetivação:
 

Devir-grupo, naquilo que se pode experimentar de composição com outros modos de afecção, outros modos de existencialização, de tal forma que do conjunto assim composto saiam partículas que entrem em relação de movimento e repouso com zonas ainda não conhecidas. (BARROS, 2007, p.293)

 
Os processos grupais são compreendidos, pela lógica dos encontros, que existem maus e bons encontros. O grupo então pode servir para destruir, massificar, ou servirá como meio de produção de desejo.


Logo, nenhuma coisa é boa ou má em si mesma, isto dependerá da relação que se estabeleça. É na superfície que se desenham as relações. A superfície é montada, portanto, pelas relações que os corpos criam entre si. De um corpo, o que se pode saber, é aquilo se se expressa no encontro (BARROS, 2007, o.297)

 
A esquizoanálise pensa a transferência não somente da relação com o analista, mas, a alguns outros objetos (integrantes do grupo). A transferência é modificada e ela perpassa “[...]agenciamentos de enunciação, maquinismos desejantes criando sujeitos e objetos, e não apenas materiais recalcados a se repetir na transferência.”(BARROS, 2007, p. 304)

Segundo Benevides quando ouvimos o outro no processo grupal, sua história e seus sentimentos, produzirmos novas formas de subjetividade, novos EUS. Experimenta-se assim o diferente, e o novo. Portanto, este campo de saber compreende que o grupo é um dispositivo que pode vir afetar e ser afetado pelos seus integrantes. Produzindo desta maneira novas formas de subjetividade, diferentes das impostas pelo modelo capitalista.



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